segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Teoria Plotínica da Beleza (resumo)

Plotino e Aristóteles
Pode-se dizer que o fundamento da visão de Plotino sobre a Beleza é Platônico. De fato, o “logos VI” da Enéada I contém sugestões originais e valiosíssimas, sugestões que parecem anunciar boa parte do pensamento estético moderno.
É verdade que Plotino parte de uma crítica a Aristóteles. Plotino parte para seu pensamento estético investindo violentamente contra essa idéia aristotélica de definir a Beleza objetivamente e realisticamente como resultante da harmonia das partes de um todo.
Para Plotino, a Beleza não podia consistir na harmonia das partes do objeto estético, como pensava Aristóteles, porque, a ser assim, as coisas simples, como uma cor pura, por exemplo, não poderiam ser consideradas belas.

Beleza do simples
Para o homem não existe e nem existirá jamais nada que seja esteticamente apreciável como “simples”.
Plotino diz que ao ouvirmos uma música, não é somente o todo da sonata ou da sinfonia que nos agrada, é cada som isolado, isto é, cada parte do objeto estético musical inteiro é belo.
“Cada um dos sons de um todo musical belo é, por si mesmo, belo também”.

Influência Platônica em Plotino
“Uma coisa material bela surge por participação numa idéia saída do divino”, ou, como traduzem outros, “o corpo belo surge pela comunicação com um logos vindo dos deuses”. (Ob.cit,p.170)
A influência de Platão é evidente a cada passo da pequena obra-prima de Plotino.

Artes visuais, Auditivas e de Ação
As artes são classificadas em visuais, como a Pintura, e as auditivas, como a música. As artes como a poesia ou o Romance que sendo mais intelectuais e de ação, não se enquadram bem em nenhum dos dois tipos.
Plotino percebeu que os dois sentidos estéticos por excelência eram visão e audição.
Entretanto, estava atento para o fato que acabamos de sublinhar a respeito de artes como o Romance, o teatro e a Epopéia, mais ligadas ao comportamento e às ações humanas.
“Mas para os que se elevam progressivamente desde a sensação para o supremo, há empresas belas, ações e comportamentos belos”. (Op.ep.cits.)




Plotino e Kant
Para Kant, além da inteligência e da vontade, existe uma terceira faculdade, apta a julgar a beleza. É o juízo de gosto, que Kant afirma ser governado pela sensação de prazer e desprazer, dominado pela imaginação livre, aliada, talvez ao entendimento.
Para Plotino, como também para Kant, teria pressentido que o campo estético não poderia se esgotar somente com o Belo clássico? Será que estava predisposto a aceitar o Mal e o Feio como legítimos, no campo estético? Parece que não. Mas talvez Plotino visse o Mal e o Feio como legítimos apenas no mundo e na vida, mas não na Arte.
A identificação entre Bem e Beleza é platônica, sem dúvida. Mas porque Plotino diz que é preciso estudar a Beleza e o Bem, o Feio e o Mal? É claro que ele dá primazia hierárquica à Beleza e ao Bem, mas não deixou de afirmar, pelo menos, a necessidade de estudar o Feio e o Mal.

Plotino, Hegel e Maritain
O pensamento de Plotino volta-se, assim, para as fontes platônicas e traz algumas valiosas contribuições para o estudo da Beleza e da Arte. Para Aristóteles, o prazer que experimentamos diante de um quadro ou de uma tragédia, vem da alegria de reconhecer aquilo que foi imitado pelo artista. Porque se o prazer estético viesse da alegria de reconhecer o imitado, nós não poderíamos achar belo um retrato pintado por Holbin ou Lucas Cranash, uma vez que nunca conhecemos os modelos que os dois retrataram.
Para Plotino, a alegria que a alma sente diante de uma obra bela origina-se do fato de que, diante dela, nós sentimos que estamos diante da chispa de outra alma humana, o artista colocou em sua obra uma fagulha, um brilho de sua alma, e a nossa, ao captá-la, se alegra, porque aquele encontro é, de fato, um reencontro.
O pensamento estético de Plotino influenciou todo o pensamento primitivo medieval e os escolásticos, Santo Agostinho e Santo Tomás trazem, indiscutivelmente, sua marca.

Plotino e Bergson
É curioso observar o parentesco estreito que existe entre um pensador antigo, como Plotino, e outro, contemporâneo nosso, como Henri Bergson. É sabido que foi Bergson quem revalorizou, modernamente, o “conhecimento místico”, reconhecendo que os místicos cristãos, como Santa Teresa ou São João da Cruz, colocavam-se diretamente em contato com aquilo que a intuição buscava. Os místicos cristãos, partindo da idéia de que o coração humano era o templo do Espírito Santo, viam a caminhada para o divino como uma entrada ascética e exaltante para o interior e o centro da alma humana. Para Bérgson, tudo isso se confundia com a duração e o impulso vital subterrâneo, do qual a existência recebia existência e sentido.
Pois o pensamento de Plotino parece se antecipar não só a Santa Teresa e São João da Cruz como ao próprio Bergson.

As duas definições da Beleza
Para Plotino a “Beleza não é uma harmonia, é uma luz que dança sobre a harmonia, é uma luz que dança sobre a harmonia”. É a velha idéia platônica do esplendor, do brilho da Beleza. Aqui, porém, é que Plotino acrescenta algo muito importante a todos os pensadores que, antes dele, tinham se detido sobre o problema da Beleza e da Arte. Qual seria a natureza dessa luz? Plotino define a Beleza como que uma primeira síntese entre a luz platônica e a harmonia aristotélica.
Plotino empreende uma aproximação maior e mais profunda em direção a própria essência da Beleza. A luz que dança sobre a harmonia seria antes de tudo, resultante de uma certa intensificação do ser, se assim se pode falar.
O texto mais importante de Plotino no campo da Estética é aquele no qual ele liga a Beleza à luz da forma.
“Domínio da forma sobre o obscuro da matéria”. (Op.cit.,p.171.)




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